quarta-feira, 9 de julho de 2008

Poetry

Uma vez vi na tv uma menina. Uma menina que vive com outra menina. Uma menina que vive com outra menina e escreve poesias. Uma menina que vive com outra menina, que escreve poesias e é pobre. Uma menina que vive com outra menina, que escreve poesias, que é pobre e tenta vender suas produções num sinal. Tá. Daí chuva, seis da tarde. Sinal no bairro de Prazeres. Vejo a figura, a menina, a tal menina. Nao abriria o vidro a essa hora, num sinal perigoso, na chuva. Não é? Eu abri.

"Bom noite senhor, poesias? Produções minhas! {Sorriso no rosto} Pegue um caderninho, e me ajude da forma que puder, obrigada!

Como assim? Me ajude da forma que puder? Ja tinha visto a menina na Tv, sabia que produzia, que nao possuia muita instrução, mas que seus textos eram legais. Daí ter aberto a janela, daí ter a curiosidade de lê-la. Mas aguardava por uma cobrança, um preço por aquela pequena coleção de escritos. " Me ajude da forma que puder! Isso ficou ecoando na minha cabeça... Será que essa conduta já não seria pra despertar esse sentimento nas pessoas? Kinda: "Ela faz e nem cobra por isso" Enfim, em coisa de minutos, pensei nisso, e pegando o caderninho, ameacei fechar a janela, no mesmo instante ela me sorriu novamente e disse, obrigada senhor... Quando já saia, pedi que ela esperasse, derrubei todas as moedas de um moedeiro recheado pelo troco de uma caixa de supermercado "impiedosa" e dei a ela. Nao sei bem quanto, mas eram muitas, muitas moedas. Outro sorriso e um "até logo, valeu mesmo, nao precisava tanto, só queria que lesse". Deixei o livrinho no banco do lado. Em casa, li. E para alguem que percorre sinais ela escreve bem, e muito bem.
Mas o que me encantou, nao foram as palavras, mas o fato de não cobrar, de apenas pedir que lesse, apenas, que a lesse.


Sou de muitos um sonho, as vezes cheio de esperanças,
Quando tudo é lindo, um começo perfeito,
Sou a ilusao dos que nao esperam a desilusão,
Sou um novo sopro de felicidade na vida dos desenganados
Sou o novo começo
Sou o que sempre acontece
E tudo sou.

Pois. Nada too deep, nada too complex.

Eh isso. Ela ao menos se expressa. E ao meu ver, bem.

Um comentário:

Olavo Coelho disse...

Passei por situação parecida na Paulista, quando fui a Sampa. No meu caso, era um senhor. Ficamos conversando sobre o nordeste (disse que era da Bahia), e ele me deu uma folha com seus textos. Experiências sublimes, mas que normalmente tememos ou achamos "estranha". Na verdade, o estranho somos nós... :)